poesia para quem sente
Ontem eu subi um post no meu Instagram com um vídeo simples: tocando meu desafinado violão, esforçando minha trêmula voz e, sem ensaio, eu cantei.
Foi uma dessas distrações bobas, que a gente deixa escapar nas tardes cinzas e solitárias.
Poucos segundos depois que subi o post, eu recebi uma enxurrada de amor, várias mensagens de admiração e inclusive uma chamada telefônica sem aviso prévio de uma amiga agradecendo-me por aquele delicado presente pela manhã (parêntesis para contar da delícia que foi lembrar das ligações espontâneas!).
Cantar sempre me fez transbordar e aprender a tocar violão foi um dos primeiros sonhos que vi acontecer. Um senhor precisava devolver um dinheiro que devia para minha mãe e sem piscar ela negociou o pagamento por algumas aulas e um velho violão. Éramos 4 crianças. Aprendemos o básico. E logo tivemos que seguir por nosso próprio caminho. Eu queria aprender as canções que estavam nas revistinhas da banca, mas não tínhamos dinheiro para gastar com isso. Passei a memorizar a sequência das notas das páginas abertas que conseguia ler quando me detinha na frente daquela banca de jornais tão empoeirada. Então, com aquele tesouro em mente, corria para casa repetindo em voz alta e rezando para que o violão estivesse disponível para poder enfim deitar nele uma nova canção.
Cresci. Estudei. Trabalhei. Estudei tendo que trabalhar. Trabalhei tendo que estudar. E a conta nunca fechava para que eu pudesse me aprofundar em aulas e métodos.
Mas apesar de raso, eu mergulho. E toda vez que eu pego no violão sorrio lembrando que não preciso ser mais do que algumas notas, dedilhadas do jeito possível que aquele velho marceneiro soube me ensinar e a quem eu me mantive fiel na maneira gentil de correr os dedos pelas cordas.
não ser tanto, nem perfeita, mas completa
Tocar e cantar me emocionam. É na melodia sensível que retorno para aquela sala úmida e abafada onde o eco da minha voz me fazia acreditar que era lindo tudo o que eu fazia.
Foi ali onde nasceu esse meu consolo de não ser tanto, nem perfeita, mas completa.
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